quinta-feira, 20 de março de 2008

"PRAYATNA" - Esforço Inteligente - Em Aulas de Grupo

Yoga é seguidamente associada, no Ocidente, a posturas físicas pouco comuns, ou é vista como relaxamento, ou como um saco de coisas misturadas, matizadas de Hinduísmo. As pessoas dizem repetidamente coisas do tipo " Yoga é para acrobatas e contorcionistas" ou "Qual é o sentido de colocar meu corpo em posturas estranhas?", ou "Acho Yoga irritante". Quantos comentários depreciativos Yoga atrai, e quantas pessoas o desprestigiam! Mas eu tenho que admitir que essas críticas são muito bem fundamentadas. Tenho que confessar que, se eu não tivesse encontrado um bom professor, eu também teria criticado o Yoga.

Para começar, as posturas - tão seguidamente lembradas como Yoga - são apenas a ponta do iceberg do Yoga. Do total de 195 aforismos dos Yoga Sutras de Patanjali (o mais importante texto de Yoga) somente 3 deles falam sobre posturas. Na antiga tradição védica, as posturas eram consideradas apenas como uma das ferramentas básicas de Yoga. Naqueles tempos, as pessoas viviam sem os benefícios da medicina moderna. O mais vulnerável morria indefeso diante da doença, o mais forte se tornava mais forte em razão dos trabalhos pesados de buscar água, lavar roupa, trabalhar nos campos... eles eram suficientemente ativos e não necessitavam de posturas de Yoga. Hoje, em nossa sociedade sedentária, as posturas são um recurso importante na prática do Yoga. Compreender nosso corpo a partir de dentro, fortalecê-lo, torná-lo mais flexível, estimular a digestão, aprender a respirar etc., tudo isto são desafios em si mesmos... Mas a maioria das pessoas pensa que as posturas dizem respeito apenas a tornar o corpo mais flexível. Vamos encarar: Yoga é pobremente percebido e compreendido.

Yoga começou a se desenvolver na Europa na década de 50. Em boa fé, algumas pessoas que viram ioguis experientes, na Índia, praticando nas ruas, simplesmente voltaram ao Ocidente e tentaram ensinar o que tinham visto. Outros encadearam posturas sem perceber que a ordem em que são praticadas é importante. Estas são algumas das razões que penso que tenham contribuído para a desvalorização da imagem das posturas de Yoga em nosso mundo moderno, atribuindo-lhe o rótulo de "acrobático". Atrás de cada prática, de cada postura, existe um objetivo, uma idéia inteligente. O estudo das posturas, a construção de uma sequência e a aplicação das ferramentas do Yoga são assuntos de rico e profundo alcance. Levam um bom tempo para ser aprendidos, requerendo tanto experiência quanto prática.

O aforismo nº 47 do capítulo II dos Yoga Sutras de Patanjali, explica que a postura de Yoga está dominada "quando todo o esforço é relaxado, e a mente está absorvida no Infinito". É esta noção de esforço inteligente - prayatna - que eu gostaria de enfatizar neste artigo. Ela mostra quão importante é o professor no processo do ensinamento. De fato não há uma maneira única de aplicar as posturas de Yoga, não há uma maneira única de encadear as posturas, nem todas as posturas são úteis a todos. E, sobretudo, de acordo com o professor Krishnamacharya, " é a postura que deveria servir à pessoa e não a pessoa servir à postura". O que pode ser feito para que, de fato, o Yoga possa servir à pessoa? O ponto de partida deve ser a observação tanto da pessoa quanto do grupo, para definir um possível objetivo. O objetivo poderia ser fazer o "pouso sobre a cabeça", "compreender sua respiração", "estar consciente de seu corpo", "tornar-se mais calmo", " obter mais energia", "unificar o grupo", etc. São tantos os objetivos possíveis que a lista ficaria exaustiva. A única coisa importante é demonstrar sua diversidade.

Contudo, para cada participante, os meios usados para alcançar os objetivos escolhidos são diferentes. Tomemos o exemplo simples de "relaxação". Para determinadas pessoas é impossível relaxar antes de ter completado mais ou menos 10 posturas, enquanto outros somente precisam de uma ou duas posturas suaves, com movimentos simples de braços. Além disso, muitos parâmetros diferentes têm que ser levados em conta, quando se escolhe a seqüência para a prática: idade, força, aptidão, estilo de vida, abordagem filosófica, interesses ... Exatamente por isso que o Yoga é sobretudo uma ferramenta holística, que considera a pessoa em sua totalidade. Quanto aos grupos, eles deveriam estar ajudando cada indivíduo a adquirir seus próprios objetivos, trabalhando dentro de seus próprios limites, mas dentro dos parâmetros do grupo.

Dada à diversidade de objetivos e meios, intuição, conhecimento e experiência são imperativos para que o professor possa adequar o exercício às necessidades específicas e a capacidade de cada aluno. Está claro que, intrínseca à noção de "esforço inteligente" de Patanjali, existem regras básicas, uma gramática de adaptação de posturas - mas isto será tema para outro artigo...

Autor: Philip Rigo - Traduzido para o inglês por Sally Trickett e para o português por Zita Maidi Steigleder